Assim nasceram os canários; e, porque não poderiam viver sobre o mar, a cada um deu Poseidon um galho como símbolo da união perdida pela humanidade, para que os canários se juntassem e vivessem para sempre como memórias vivas de um tempo onde o homem havia sido perfeito. Os canários assim o fizeram, e da união de todos os canários e de todos os galhos nasceram as ilhas de lendária beleza que, muito mais tarde, os navegadores portugueses haveriam de apelidar de pérolas do Atlântico: os Açores, a Madeira e as Canárias. Ainda hoje, o canto do canário continua a hipnotizar quem quer que o oiça; e talvez seja por isso que os primeiros navegadores tenham sentido a necessidade de os levar consigo em gaiolas douradas para os oferecer às suas amadas, tendo conquistado da mais simples donzela à mais imponente rainha. Os Canários
da Atlântida
Há muito, muito tempo, no centro do Atlântico, existiu um reino tão perfeito que provocava inveja ao próprio Poseidon, Deus dos Mares. E da harmonia surgiu a discórdia; da perfeição surgiram pecados, como a vaidade, o orgulho, a ira. Poseidon, que antes tinha sentido inveja, ficou irado com tamanha prepotência. Por isso, decidiu impôr castigo máximo sobre o Reino; dos mares antes calmos surgiram enormes ondas que engoliram o continente perfeito, condenando a Atlântida a repousar para sempre no fundo do Oceano. Mas até o Deus dos Mares se compadeceu com tamanha destruição. Por isso, decidiu salvar as melodias mais bonitas da Atlântida, dando-lhes vida própria, e asas para que pudessem ser livres, e cores para que pudessem ser lembradas. Uma terra de paisagens lindíssimas, repleta de exóticas árvores de fruto e animais vistosos, habitada por seres sábios e profundamente dedicados ao saber e às artes. Possuíam uma civilização tão avançada que se dizia saberem o segredo da juventude eterna; e, em vez de falarem, cantavam, e as melodias do seu canto eram capazes de hipnotizar quem quer que as escutasse. Por causa disso, detinham um poder como nenhum outro povo à face da terra. Mas o poder conduz à corrupção, e cedo os Atlantes ganharam vontade de ir mais longe. Esqueceram-se das artes e voltaram-se para a guerra, conquistando primeiro as ilhas vizinhas, depois África, depois a Europa. Ilustrador Jorge Dias Texto César Sousa

Os Canários da Atlântida

“Os canários da Atlântida” resultam do inebriante gosto que temos pela observação dos pássaros, nos seus voos e cantos.

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