perdeu a cabeça
é mesmo assim que esta história começa.
É que este galo era tão diferente
que tinha a capacidade de enervar toda a gente.
Dizia o povo que ele era maluco;
a meio da noite dava uma de cuco.
Cantava de galo todo o santo Natal,
chorando os perus servidos com sal.
Interrompia o padre a meio da missa,
assustando os cavalos na cavalariça.
Passeava na rua como um pavão,
pintado às bolinhas e um coração.
Mas era jagunço! E rufião!
Andava à porrada dia sim, dia não.
Os aldeõezinhos, fartinhos fartinhos,
andavam com o capão pelos cabelinhos,
e criaram um jogo deveras macabro,
com cruzes e bolas escritas num quadro.
Punham uma bolinha se o haviam de assar,
ou uma cruzinha se era para estufar:
com três numa linha fariam o jantar...
Não sei se do susto, ou se da pressa,
ou do que quer que lhe passasse pela cabeça,
mas ao ver lá de longe tamanha trapaça
deu-se início ao destino que levava à desgraça.
que depressa se pôs a fugir da multidão:
meteu-se na mata – e na atrapalhação!,
subiu um celeiro, que confusão;
tropeçou numa foice,
foi contra uma vaca;
levou um coice,
partiu uma estaca.
Deu uma cabeçada contra uma fresta,
nasceu-lhe outro galo no meio da testa.
Ficou com a cabeça ao pendurão;
foi agarrado pelo pelotão...
Foi assadinho. E foi um festão!
Decidiram servi-lo com arroz de nabiça.
Mas acharam por bem encomendar-lhe uma missa.
É que as suas façanhas deixaram memória;
e o jogo do galo ficou para a história.
Tanto assim foi, que até sucede
que lhe penduraram a cabeça numa parede.
Ali ficou, mas também não interessa:
é que esta história acaba como começa.
Perdeu a cabeça, essa é que é essa.
Perdeu a cabeça, ficou esta peça

O galo que perdeu a cabeça
“O galo que perdeu a cabeça” é uma peça decorativa de parede ou de pousar sobre uma mesa.
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