das Oliveiras
Os egípcios já procuravam o óleo dos meus frutos há seis mil anos, depois na Síria, na Palestina, em todos estes lugares foram encontrados vestígios de instalações para a produção de azeite, além de fragmentos de grandes potes destinados a guardar o precioso líquido. Não duvidem, que eu vim de longe, dos confins do tempo. No início tinha família por todo o Crescente Fértil, e foram os gregos que nos levaram atrás na sua expansão. Só os gregos, para moverem até as coisas imóveis! Também fomos levadas desde o norte do que hoje vocês chamam Irão, no estremo sul do mar Cáspio. Aquilo que dávamos era tão rico, e a nossa sombra tão prazenteira, que nos levaram pela bacia do Mediterrâneo e mais tarde até além mar, nas caravelas, com os portugueses e com os espanhóis, até às Américas.
No tempo dos Descobrimentos, o meu azeite era um dos "medicamentos" essenciais a bordo de qualquer nau. Havia um documento específico para regular o uso destas substâncias, com o breve título de: "Rol da Botica para os cem homens da navegação de uma Nau para a Índia de quinhentas e cinquenta até seiscentas toneladas" (vigente em cerca de 1617) e neste, lá estava o meu óleo, para a preparação dos unguentos. Havia 22 unguentos e preparados farmacêuticos obrigatórios na Armada portuguesa, dos quais pelo menos 7 exigiam a pureza do meu óleo. Com tanta aventura, tenho hoje família por todo o mundo, na Argentina, Austrália, Chile, Estados Unidos da América, até ao Japão, México, China e República da África do Sul.
Talvez a paz contenha a guerra, não é?
Como uma boa refeição ganha mais sentido depois de horas de jejum; ou será o inverso?
Pinga a pinga, poema a poema, a cada banquete, a cada farnel, todas as épocas souberam apreciar as muitas dimensões do azeite: o seu sabor, as suas múltiplas funções, o seu contributo para uma dieta saudável, o seu uso nas mais variadas culturas, ao longo de todos os tempos. São preciso cinco a seis quilos dos meus frutos para se extrair um litro de azeite. Cada gota desenha ao cair o fio desta história de tempos imemoriais. A gota que cai hoje na azeiteira da mesa moderna é essencialmente a mesma que outrora caiu no repasto do homem neolítico, na pele da mulher grega que o utilizava como hidratação, na candeia do pastor que conduzia os seus rebanhos pela noite escura. Iluminei a leitura dos Livros de Horas dos monges, e tantas outras horas sábias do mundo. Até à chegada à Europa das lamparinas a gás, no século XIX, eram as lamparinas de azeite que nos garantiam a iluminação.
Gota a gota, cultura a cultura, refeição a refeição.
Cada uma destas gotas vem de longe – e sabe muito.

Monte das oliveiras
“Monte das oliveiras” traz para a mesa a paisagem que temos no olhar: serenas oliveiras em campos de perder de vista.
Outras Coleções






















