A quietude
do Gafanhoto
Naquele Verão, o meu irmão leu numa revista que os gafanhotos são capazes de saltar uma distância equivalente a vinte vezes o seu tamanho e isso trouxe novo alento à nossa ideia antiga de nos tornarmos exploradores. Fiz as contas: se aprendessemos a saltar assim, poderíamos dar a volta ao mundo em poucos meses.
Diante da casa havia um terreiro que, no pico do dia, escaldava. A erva nascia já seca. Os montes minhotos eram a distância toda até ao horizonte e eu sentia a vertigem do céu azul como um mar sobre nós.
Os gafanhotos saltavam à nossa passagem.
Nós deitávamo-nos na terra em brasa, imóveis, atentos para não perder o momento do salto, prescrutando o mecanismo das pernas do gafanhoto catapultando-o para longe. Eram horas longas: os gafanhotos demoravam-se antes de saltar, mansos como figuras em loiça, e, por vezes, era necessário assustá-los para os ver lançarem-se no ar quente da tarde. Nessa época, eu ainda não sabia que a arte de ficar quieto é mais difícil de aprender.
Ilustrador Alex Gozblau Texto David Machado

A quietude do Gafanhoto

"A quietude do gafanhoto” surge do antigo hábito de observar estes pequenos animais, registando-os em desenho e admirando a sua elegante estrutura.

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