Quem primeiro teve a ideia de chamar aos lisboetas “alfacinhas” ninguém sabe. Bem, quase ninguém. Havia uma pequena menina de caracóis castanhos escuros que sabia; apesar de orfã, o seu tetra-tetra-tetra-tetra avô tinha sido um dos poucos mouros a ficar por estas bandas depois de o D. Afonso Henriques ter conquistado Portugal. Talvez por isso, tinha um nome peculiar: Al-Hassa. Mas como “Al-Hassa” não era um nome muito fácil de dizer, toda a gente a tratava, simplesmente, por “Alfacinha”. Ou isso, ou talvez porque, como era tão pequenina e de aspecto tão frágil – embora não o fosse! – esse nome fizesse sentido. Ou talvez, quem sabe, porque era fresca como uma alface; ou ainda porque quis o destino que vender alfaces fosse o seu ganha-pão. Fizesse calor ou fizesse frio, todos os dias subia e descia a Calçada de Carriche, enchendo as ruas com o pregão “Alfacinhas! Olha as Alfacinhas!”. Mas em vão. Dia sim, dia sim, a carroça ia e voltava cheia, e a menina não tinha outro remédio senão comer ela mesma as alfaces para conseguir sobreviver. Um dia, uma praga de caracóis abateu-se por toda a cidade de Lisboa, devorando todos os legumes da cidade. A Alfacinha
dos Caracóis
Vendo a população a passar fome – e sabendo muito bem ela o que isso era – a menina criou um plano: coseu folhas de alface, uma a uma, num enorme fio, que espalhou de um lado ao outro da cidade. Durante a noite, todos os caracóis devoraram as folhas, ficando presos no fio; e, no dia seguinte – maravilha! –, foram todos cozinhados num enorme caldeirão, com um pouco de sal e um raminho de orégãos, num festim para lembrar para todo o sempre. E foi assim que nasceu a história da Alfacinha dos Caracóis – se eram os do seu cabelo ou aqueles que vão bem com uma imperial, ninguém sabe. Mas sabe-se que, em sua honra, plantaram-se alfaces nas sete colinas da cidade, emprestando aos lisboetas, com o passar dos anos, a alcunha de “Alfacinhas” popularizada por Almeida Garrett no célebre livro “Viagens na Minha Terra”. E é justamente por esse motivo que se diz que os caracóis sabem muito melhor quando são servidos numa folha de alface. Ilustrador João Cabaço Texto César Sousa

A Alfacinha dos Caracóis

"A Alfacinha dos Caracóis" é uma referência à produção cerâmica Caldense vegetalista, ornamentada com um pequeno caracol cujos olhos são palitos para degustar muito mais do que os tradicionais caracóis.

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