vida das
Borboletas
É a frase mais espantosa que ouvi nos últimos tempos. A sonoridade é linda, a imagem é colossal.
E foi aí que o meu ganso interior, ganso preto, ganso branco, se lembrou da encomenda das borboletas. Ou melhor, do dia em que o homem do correio lhe deixou uma caixa de borboletas à porta.
O meu ganso olhou-as e desconfiou. Seguiu a vidinha, cabisbaixo, coisa para a qual a sua anatomia se tem vindo, cada vez mais, a adaptar, mirrando polegares e todo o sistema imunitário.
Não obstante, interrogou-se: e o que é um ganso, afinal? Alguém sabe?
— Uma palavra: gan ou gã, so ou su. (Dá o mesmo. Ganso são dois sons, mesmo que lhe chamem sílabas noutras orquestras.)
— Duas cores: branco e preto. (Está definido o ganso: uma coisa ou outra.)
das Borboletas
Dois sons. O homem do correio bateu à porta. Duas cores. Quer as borboletas de volta. Dois sons, outra vez. As borboletas ou o estrondo de uma vaca a ser atropelada. Um pescoço partido, um extermínio numa lâmina afiada. Um grupo de bruxas, das vermelhas, ao redor, a esfregar as mãos de contente, ao redor, ao redor. Sem qualquer honra. Uma bacia de alumínio com água a ferver, prontinha a higienizar a morte. Que sim, está quase. E sim, Maria, a história das bruxas ficou prometida, mas encravada. Os recipientes, os frangos, os gansos, as penas, os tocos, os ossos, as salivas, o sal, as areias, o húmus, as daninhas e os olhos vítreos de todos os sapos mais o acne das rãs.
E o que faz o ganso?
Vai buscá-las. Olha-as. Borboletas em espargata, diagnostica. Arruma-as.
Vai buscá-las outra vez. Borboletas estiradas ao Sol. Arruma-as.
Vai buscá-las outra vez. Alfinetes de dama, e espicaça as damas. Género tipo género.
O traseiro do ganso dirige-o para o borboletário. O pescoço, do ganso, estica-se. Estica-o. Agora, o ganso começa a ter faróis e alcança o céu por cima das nuvens. Em seu redor há milhares de borboletas. Brancas-creme, as borboletas normais nas manhãs de Primavera das violetas. Breves. Do tempo em que esperávamos poder fixar a leveza, as cores, a sua magnificência simples.
Vai buscá-las. Sem clientela. Uma montra. Um bordel de borboletas.
O ganso desloca-se. É só um pescoço.
E assim caminha melhor, sem as plumas do traseiro.
Não se pode ter peso nas mãos para poder olhar o céu.

Esperança na vida das Borboletas
“A esperança na vida das borboletas” é numa peça decorativa que resulta de uma prolongada admiração pela elegância e delicadeza deste policromático animal.
A ColecçãoComprar
Outras Coleções






















